A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
4 comentários:
Keka querida,
Gosto tanto dessa poesia do Drummond que a tenho separada nos rascunhos do blog para um futuro post.
Eu diria que meia verdade é uma mentira inteira e uma verdade inteira é, ainda que as vezes doa, as duas metades que compõem um ser íntegro.
Beijo,
Inês
Ei Kekinha! To com saudade de voce!
A verdade é que você está demorando muito a postar.
Saudades!
Inês
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