sábado, 25 de julho de 2009

A VERDADE DIVIDIDA


A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

Dois Rios disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dois Rios disse...

Keka querida,

Gosto tanto dessa poesia do Drummond que a tenho separada nos rascunhos do blog para um futuro post.
Eu diria que meia verdade é uma mentira inteira e uma verdade inteira é, ainda que as vezes doa, as duas metades que compõem um ser íntegro.

Beijo,
Inês

Renato Vargas Simoes disse...

Ei Kekinha! To com saudade de voce!

Dois Rios disse...

A verdade é que você está demorando muito a postar.

Saudades!

Inês