terça-feira, 4 de agosto de 2009

ÀS VEZES ENTRE A TORMENTA



Às vezes entre a tormenta,
quando já umedeceu,
raia uma nesga no céu,
com que a alma se alimenta.

E às vezes entre o torpor
que não é tormenta da alma,
raia uma espécie de calma
que não conhece o langor.

E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,
restam os versos que deito,
vinho no copo do acaso.

Porque verdadeiramente
sentir é tão complicado
que só andando enganado
é que se crê que se sente.

Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

3 comentários:

Sany disse...

Lindonaaaaaaaaaaaaa...beijoss Saudades..

Dois Rios disse...

Ai, Keka, esse homem sempre atinge a minha jugular, rsrs...

Lindo demais!

Beijos encantados!

Inês

Renato Vargas Simoes disse...

Kekissima! Voce e suas poesias...muito legal mesmo!